Jeremoabo resgatou a memória do belmontense Tenente Zé Rufino, herói esquecido da luta contra o cangaço



Jeremoabo resgatou a memória do Tenente Zé Rufino, herói esquecido da luta contra o cangaço

Na manhã da última sexta-feira (1º), Jeremoabo, no sertão baiano, viveu um momento histórico de resgate e valorização de uma das figuras mais emblemáticas da luta contra o cangaço no Nordeste: o Tenente José Osório de Farias, o Zé Rufino.

A solenidade, realizada na Câmara Municipal, reuniu autoridades civis, militares e convidados para homenagear o homem que se tornou símbolo da resistência contra os cangaceiros. Entre os convites feitos para a ocasião, esteve o do historiador Valdir Nogueira, convidado para representar a cidade de São José do Belmonte (PE) — terra natal de Zé Rufino.

Durante a programação, foi realizada uma sessão extraordinária para a concessão do Título de Cidadão Jeremoaobense a Zé Rufino (in memoriam). Também ocorreu a formatura do II Curso de Rastreamento de Combate – CRC 2025.1, promovido pela Polícia Militar da Bahia.

Após a cerimônia, um cortejo seguiu até o Cemitério São João Batista, onde foi inaugurado o túmulo de Zé Rufino, perdido no tempo por décadas. A homenagem incluiu salva de tiros executada pela CIPE/Caatinga e emocionou os presentes.


Do sanfoneiro ao caçador de cangaceiros

Nascido em 20 de fevereiro de 1906, em São José do Belmonte, Zé Rufino começou a vida encantando festas e feiras com sua sanfona. Recusou, por duas vezes, convites de Lampião para integrar o bando. Essa recusa o colocou no caminho oposto: o de combatente do cangaço.

Radicado na Bahia, ingressou na Polícia Militar e se destacou pelo comando ousado e pela eficácia nas operações. Apesar de chamado por muitos de “Coronel”, seu posto oficial foi Tenente.


O terror dos cangaceiros

Por quase duas décadas, Zé Rufino comandou volantes que desarticularam bandos como os de Mariano, Azulão, Barra Nova, Zabelê, Pai Velho, entre outros. Eliminou cerca de 20 cangaceiros, segundo ele próprio revelou em entrevista documentada por Paulo Gil Soares.

Seu feito mais marcante ocorreu em 25 de maio de 1940, quando emboscou Corisco — sucessor de Lampião — e Dadá, na Fazenda Pacheco, Bahia. Corisco resistiu à prisão e foi mortalmente ferido. Dadá sobreviveu, mas teve uma perna amputada. Este episódio marcou o fim oficial do cangaço no Nordeste.


Herói esquecido

Mesmo sendo decisivo na pacificação do Sertão, Zé Rufino foi gradualmente apagado da memória popular, enquanto muitos cangaceiros viraram personagens de cinema e folclore. Sua história ficou restrita a círculos policiais e de estudiosos.

O esquecimento foi tão profundo que nem seu túmulo era conhecido. Morto em 20 de fevereiro de 1969, vítima de infarto, foi sepultado sem registro preciso. Sua sepultura desapareceu com o tempo — destino bem diferente do de Lampião, Maria Bonita e Corisco, cujos túmulos se tornaram pontos de visitação.


Resgate histórico

A inauguração do túmulo em Jeremoabo não foi apenas um ato simbólico, mas um acerto de contas com a história. O convite feito ao historiador Valdir Nogueira, como representante de São José do Belmonte, reforçou o vínculo do herói com sua terra natal e evidenciou a importância de preservar sua memória.

“Quando a justiça é esquecida, o herói vira vilão e o vilão ganha estátua” — frase que poderia ecoar nos lajedos do Raso da Catarina e resume bem o destino de Zé Rufino até este dia de reparação.


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