Toda cidade tem suas figuras marcantes. Em São José do Belmonte, entre as décadas de 1980 e 1990, uma dessas figuras atendia pelo nome de Maria Cacaé. Mulher negra, de personalidade forte, jeito único e presença constante nas ruas da cidade, Maria era o tipo de pessoa que ninguém esquecia.
Nunca se casou, era considerada “moça velha”, e vivia na companhia de Dona Vanda, também moça velha. As duas moravam na Rua do Banco do Brasil, e eram muito próximas da família Machado, especialmente de João Machado dos Santos, o conhecido dono da farmácia da cidade, e de sua esposa, Dona Neuza Sobreira, que moravam na Rua Padre Manuel.
Maria Cacaé era uma figura do cotidiano. Frequentava missas, circulava pelo comércio local e visitava a casa dos Machado com frequência. Sua presença era tão constante que se tornou parte da paisagem humana da cidade — daquelas que, mesmo sem querer, ensinam e deixam marcas.
Mas sua fama maior estava mesmo entre os pequenos. A criançada da época adorava provocar, inventando rimas irreverentes e travessuras. As mais populares eram:
“Maria Cacaé, deu um peido na colher!”
ou então o clássico coro de:
“Maria Cacaé, caé, caé...”
Era só ouvirem isso para, logo em seguida, verem as pedras voando — uma reação rápida de Maria, que não deixava barato e corria atrás dos mais atrevidos com a mão cheia de pedrinhas.
Ela era o “terror” da molecada — e, ao mesmo tempo, uma das personagens mais queridas e lembradas por quem cresceu nas ruas e calçadas da velha Belmonte. Entre a brincadeira e o respeito, Maria se fez lenda viva.
Por trás do jeito arisco, havia uma mulher que viveu à sua maneira, com dignidade, entre amigos e vizinhos, com um papel social não escrito, mas profundamente sentido: o de representar, com sua história, a força das mulheres simples, o valor das relações comunitárias e a riqueza da memória popular.
Maria Cacaé não está mais entre nós, mas segue viva nas lembranças, nas histórias contadas em rodas de conversa e na saudade de uma época em que personagens como ela davam alma às cidades.
Se quiser, posso também narrar esse texto em áudio para podcast ou vídeo. Que tal?
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