Fazenda Malhada Grande em São José do Belmonte, sua gente e sua Historia

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Por Valdir José Nogueira
Apenas a 3 km da sede municipal de São José do Belmonte encontra-se escondido um patrimônio histórico respeitável: A Malhada Grande, uma das mais antigas fazendas de gado do solo belmontense.
O antigo casarão da fazenda se destaca numa suave colina da caatinga, com uma vista panorâmica dali nos 360 graus do horizonte. O dito casarão é aquela típica moradia dos antigos curraleiros dos sertões nordestinos e foi construído, provavelmente no decorrer da década de 1870, em forma de um quadrilátero, permanecendo ainda hoje, sob o domínio da família do seu primeiro proprietário.
A princípio, a malhada grande, que originou o nome da fazenda, era o antigo entreposto de gado da Fazenda Lagoa, à margem do riacho do Cristovão, sendo uma área coletiva de ajuntamento de gado para pernoite, ferra ou junta, e usada por muitos vaqueiros. 

Com quase dois séculos de existência, a sede ainda em razoável estado de conservação, preserva sua história com móveis, utensílios e retratos originais. Essa propriedade é um testemunho vivo da história belmontense mais antiga, remontado os anos iniciais do povoamento da região.
A Fazenda Malhada Grande foi um desmembramento da Fazenda Lagoa, esta desmembrada da Fazenda Inveja que era integrada nas terras de uma sesmaria da Casa da Torre de Garcia d´Ávila, e que foi arrendada em 1809 ao português Manuel Gomes dos Santos, este casado com Maria Águida Diniz filha dos proprietários da Fazenda Panela D’Água em Floresta do Navio.
Francisco Gomes dos Santos (filho de Jacinto Gomes dos Santos e Francisca Maria de Jesus, proprietários da Fazenda Lagoa), herdou a Malhada Grande e encabeçou a primeira geração da fazenda, foi casado com Antônia Maria de Carvalho e deixou 5 filhos: Francisca, Maria Francisca, Jacinto Neto, José e Ana. Francisca casou com o tenente-coronel da Guarda Nacional Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano) e iniciou a segunda geração da Malhada Grande. Filhos deste casal: Antônia, Nelson, Belisarina, Gertrudes, Áurea e Dionon. Com o matrimônio de Dionon Alves de Carvalho (filho de Neco Cipriano e Francisca) com Maria de Carvalho Santos, inaugurava-se a terceira geração da velha fazenda, filhos deste casal: Dilma, Francisca (Mirica), Antônia, Áurea, Alcione, Geraldo, Dionon Filho e Divane.
Nas diversas épocas os vários proprietários da Fazenda Malhada Grande se destacaram sempre como grandes criadores de gado da ribeira belmontense, mas também desenvolveram o cultivo do algodão e de outros produtos agrícolas como o feijão, o milho, próprios para consumo humano. Nas terras que não serviam para o cultivo agrícola, era criado o gado, que alimentava as famílias com abundância do leite e do queijo; além do gado, foram criadores de bodes, cavalos para montaria e burros para o transporte de cargas. Os animais viviam soltos na manga, os bodes dormiam sobre os lajeiros, onde a vegetação local é seca e espinhenta, em um emaranhado de xique-xique, mandacaru, macambira, quipá e coroa-de-frade, e onde os cactos e bromélias se misturam com a vegetação de porte médio – jurema, marmeleiro, favela, pinhão, catingueira etc.
Para ajudar nos trabalhos da agricultura e da pecuária, a Fazenda Malhada Grande na primeira geração possuiu vários escravos, e, atualmente, seus descendentes formam diversas famílias de Belmonte. Tem origem nos escravos da Malhada Grande os “Catarina” e os “Rupão”.
Recordar a Malhada Grande é lembrar de Maria Rita, negra dos Catarina, nascida e criada na fazenda. De madrugadinha, ela se levantava na primeira cantada do galo, tomava o café fumegante, torrado no caco, pisado no pilão e adoçado com rapadura. Logo depois, segurava o pegador de brasa para acender o cigarro, preparado com fumo de rolo, enrolado na palha do milho e guardado atrás da orelha. Nesse momento, Tiôla, com os demais vaqueiros, colocava um bornal a tiracolo, suprido com alguns mantimentos como, queijo, farinha, carne seca e rapadura, além de um tabaqueiro feito de chifre de vaca, onde guardava o rapé, montava no cavalo e seguiam para a lida do gado no campo. Nas festas e visitas a cidade de Belmonte, as moças da fazenda, vestindo-se com esmero, com chapéus com plumas, cavalgavam com elegância, montadas nos silhões com estribos de prata.
O casarão, com seu piso de ladrilho, o brabo na parede, o fogão a lenha e suas panelas de barro, que além de cozinhar, também guardavam a coalhada. No terreiro podia-se ver: o poleiro das galinhas, perus e guinés, um boi manso deitado e ruminado na sombra da quixabeira, uma vaca parida amamentado o bezerro, o mourão para amarrar o cavalo baixeiro, cabritos pulando, e galinha de pinto se aninhando, o curral ficava pertinho, feito com cerca de pau a pique, onde de longe se ouvia o ranger e o batido da cancela, mais além um chiqueiro de porcos e o espetáculos das caudas em leque dos pavões.
Na velha residência, em anos anteriores um pequeno detalhe chamava atenção do visitante, as antigas torneiras, ou seja, alguns furos na parede saindo quase em cima da porta de entrada, para introduzir o cano do rifle e despejar balas em cangaceiros afoitos que se aventurasse a penetrar no casarão.
As casas dos empregados, vaqueiros e agregados bem como as senzalas, todas paupérrimas choças de palha, taipa e adobe, há muito tempo viraram pó. Também parece não haver mais vestígios de moendas ou casa-de-farinha. A inexorável ação do tempo foi a responsável por seus desaparecimentos.
A casa da Malhada Grande era acolhedora, onde paravam constantemente romeiros do Juazeiro, almocreves carregando em suas malas de pimenta do reino a bens de consumo, para suprir as necessidades dos sertões afora. Em suas andanças de mercadores, além de tecidos, calçados, ferragens e porcelanas, levavam e traziam notícias de terras distantes, eram histórias assustadoras, que somente homens viajados sabem contar. A casa foi transformada em ponto de apoio, para caminhantes sem repouso e sem destino, verdadeiros heróis desbravadores dos sertões, também foi uma porta aberta, aos pobres retirantes, despossuídos e descamisados da vida. No final do ano de 1897, a Malhada Grande hospedou um passageiro ilustre, Padre Cícero Romão Batista, em sua viagem a Roma, e seu acompanhante, o comerciante João David da Silva, que vinham de cavalos do Juazeiro do Norte para o Recife, onde embarcou no dia 10 de fevereiro de 1898 em um navio com destino a Itália. Por seu terreiro passavam constantemente as boiadas procedentes do cariri cearense em demanda das feiras de gado de Caruaru e Vitória de Santo Antão. Na madrugada de 20 de outubro de 1922 no seu terreiro passou o cangaceiro Lampião, Tiburtino Inácio e numeroso bando com o fim específico de matar o coronel Gonzaga Ferraz na cidade de Belmonte.
Está postada solenemente no retábulo do altar da capela da fazenda, a secular imagem do padroeiro “São Manoel da Paciência” e a pequenina e sacra imagem do “Menino Deus da Lagoa”. É original, proveniente da antiga fazenda Lagoa, de onde a Malhada Grande foi desmembrada. Segundo a tradição teria, pois, mais de 200 anos. Na capela estão também sepultados os seus antigos proprietários.
7 de julho de 1960, a data marca o encerramento de mais uma página da história da velha fazenda com a morte de seu proprietário Dionon Alves de Carvalho. O jornal “A Voz do Sertão” de Triunfo, na edição nº 844, página 11 que circulou no dia 22 de julho de 1960 noticiou:
“Dionon Carvalho
Vitima de um colapso cardíaco, faleceu no dia 7 deste mês o Sr. Dionon Alves de Carvalho, abastado fazendeiro em São José do Belmonte, deixando viúva a Sra. Maria de Carvalho Santos, de cujo consórcio existem 8 filhos menores, entre os quais a professoranda Dilma Alves de Carvalho, aluna do Colégio Stella Maris, desta Cidade. O seu enterro na fazenda Malhada Grande, teve grande acompanhamento, falando na ocasião o Dr. José Maria Primo de Carvalho.”
 
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Dionon Alves de Carvalho, filho de Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano) e de Francisca Maria de Jesus, nasceu na Malhada Grande no dia 15 de setembro de 1917. Em dias de janeiro de 1941, em cerimônia na Fazenda Açude Quebrado, casou com Maria de Carvalho Santos (filha de Jacinto Gomes dos Santos Sidé e de Antônia Maria de São Pedro). Faleceu na Malhada Grande no dia 07 de julho de 1960, aos 43 anos de idade onde encontra-se sepultado.

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Gertrudes Gomes de Carvalho (Tudinha), filha de Maria Francisca de Jesus e de José Gomes de Carvalho (Zuza Cipriano). Nascida no dia 20 de setembro de 1906. Foi casada duas vezes. Casou fugida a primeira vez com Esperidião Pereira da Silva (Dandão Pereira, filho de Sebastião Pereira da Silva e Jacinta Pereira da Silva. A cerimônia foi realizada no dia 30 de novembro de 1927 em oratório privado na Fazenda Nova, propriedade na época do Sr. Álvaro Magalhães de Araújo. Contava ela com 21 anos e ele com 23 anos. Foi casada a segunda vez com Joaquim de Barros Primo. A cerimônia foi realizada em oratório privado na fazenda Malhada Grande no dia 25 de novembro de 1944. Contava ele com 32 anos de idade e ela com 38 anos de idade.


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Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano). Tenente-coronel da Guarda Nacional era filho de Cipriano Gomes de Carvalho e de Gertrudes Maria de Carvalho, proprietários da Fazenda Jurema em Belmonte. Nasceu no dia 22 de janeiro de 1873. Em oratório privado na Fazenda Lagoa, casou no dia 23 de novembro de 1895 com Francisca Maria de Jesus (filha de Francisco Gomes dos Santos e de Antônia Maria de Carvalho, da fazenda Malhada Grande). Aos 52 anos de idade, faleceu na Malhada Grande no dia 10 de junho de 1925, onde encontra-se sepultado.
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Nelson Alves de Carvalho filho de Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano) e de Francisca Maria de Jesus, 2ª geração da Malhada Grande, aos 31 anos de idade, faleceu em Belmonte no dia 21 de outubro de 1936.
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Gertrudes Alves de Carvalho, filha de Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano) e de Francisca Maria de Jesus, nasceu na Malhada Grande no dia 21 de setembro de 1908. No dia 26 de novembro de 1929, aos 21 anos de idade casou com Inocêncio Cavalcanti Novaes (filho de Francisco David de Sá Novaes e de Olímpia Cavalcanti Novaes). Faleceu aos 34 anos de idade no dia 28 de outubro de 1942.

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Belisarina Alves de Carvalho (Belisa), filha de Manoel Alves de Carvalho (Neco Cipriano) e de Francisca Maria de Jesus, nasceu na Malhada Grande no dia 08 de maio de 1911. No dia 26 de novembro de 1929, aos 18 anos de idade casou com Joaquim Cavalcanti Novaes (filho de Francisco David de Sá Novaes e de Olímpia Cavalcanti Novaes). Faleceu no dia 05 de outubro de 1991.

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