Viagem ao passado: A chefia política do Sr. Manoel Lucas de Barros em São José do Belmonte


POR VALDIR JOSÉ NOGUEIRA

O nome do Sr. Manoel Lucas de Barros, mais conhecido como “Né Lucas” está intimamente relacionado à história de São José do Belmonte, em continuidade ao secular poder da família Carvalho no município. O valor e o prestígio de Né Lucas cresceram de tal modo que ele se tornou chefe supremo na política local, sendo prefeito em dois mandatos distintos. Seu nome sempre esteve em grande evidência nos acontecimentos políticos que marcaram o município, principalmente nas décadas de 1940 e 1950. Um jornalista de “A Voz do Sertão” da cidade de Triunfo, em 1959 traçou a maneira de ser do Sr. Manoel Lucas de Barros: “Esse homem era um cavalheiro tão perfeito, um diplomata tão completo, naqueles tempos bárbaros, que desarmava o adversário cercando-o de considerações e ativava o inimigo, dando-lhe superior importância; enquanto aos amigos, por mais pobres que fossem, tratava com intimidade e confiança de irmão. Popular ao extremo provocava palestra com todos, pretos, brancos, ricos ou pobres, que encontrava em seus passeios habituais.”
Figura lendária, aqui acolá, ele é lembrado na “Terra da Pedra do Reino” em histórias e causos que contam a seu respeito, principalmente quando essas histórias envolvem a política daquele tempo. Uma dessas histórias fala do pleito de Agamenon Magalhães para Governador do Estado de Pernambuco em 1950. Pois bem, durante essa campanha, saiu um dia o prefeito Manoel Lucas com uma “caravana política”, que era composta de vereadores, correligionários, parentes e amigos, todos montados a cavalo, usando suas botas com perneiras e chapéus. Passando pela ribeira da Várzea do Tiro, zona rural do distrito de Mirandiba, em dado momento a caravana parou numa casa simples e acolhedora, era residência de um amigo e eleitor do prefeito, que naquela região servia de cabo eleitoral. E foi nessa casa que uma senhora, em adiantado estado de gravidez, aproximou-se do prefeito e falou: “Seu Né Lucas, eu vou votar no senhor, como o senhor sabe, mas acontece que o senhor também sabe que dia de eleição é dia de festa, eu estou carecendo de um vestido novo e sapatos mode poder comparecer e votar nos seus candidatos!”. E o Sr. Manoel Lucas, raposa velha em política, respondeu sem titubear: “minha senhora, eu fico até emocionado com a sua honrosa atitude, mas quero dizer-lhe que a vitória dos meus candidatos é certa, e não ficaria bem pedir a senhora que está buchuda, fazer esse sacrifício sem tanta necessidade, mas, em lugar do voto, eu gostaria de ser o padrinho dessa criança que vai nascer, compreendeu?”. A mulher imensamente satisfeita, agradecia a distinção em ser comadre do Sr. Manoel Lucas de Barros. E no dia da eleição, lá estava a mesma mulher para votar nos candidatos do pretenso compadre, mesmo sem ter ganho vestido ou sapato.


Foto: Sentados: o Sr. Manoel Lucas de Barros é o do centro, do lado esquerdo é o Sr. João Primo de Carvalho. Do lado direito é o Sr. Tertuliano Donato de Moura, que no primeiro mandato de prefeito de Manoel Lucas de Barros (18/11/1925 a 14/11/1928), foi seu vice-prefeito.

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